15 fevereiro, 2006

Os Assaltantes do saber.


A criminalidade ligeira e o furto à mão armada continuam a aumentar em Portugal. Nos últimos tempos há a registar a subida considerável de um tipo de assalto no qual o agressor sabe exactamente o que quer da sua vítima. Este método que se tem transformado numa espécie de surto em cadeia em várias cidades portuguesas, tem como alvos preferenciais professores catedráticos, universitários e politécnicos em geral, bem como professores do secundário ou autodidactas de reconhecido mérito. O assalto decorre invariavelmente do mesmo modo: o meliante começa por abordar a sua presa com uma pergunta neutra do tipo – “ó bacano, onde fica a Faculdade de Ciências mais próxima?" – e como o escolhido responda correctamente ao que se lhe pergunte, o agressor empunha bruscamente uma arma branca, um pisa papéis ou mesmo uma caneta Bic e saca do agredido autênticas dissertações de mestrado ou doutoramento. As queixas apresentadas testemunham os questionamentos mais diversos, citem-se:, por exemplo, os seguintes: – “ó palhaço passa para cá tudo o que sabes acerca de Lansi Suomen Laani!” – ou ainda – “se não queres ficar magoado diz-me tudo o que sabes acerca da teoria dos fractais”. Estes praticantes profissionais de furto qualificado chegam mesmo a questionar especialistas acerca da planta Cooksonia Pertoni, sendo conhecida uma pergunta por várias vezes reiterada – “se tens amor à vidinha recomendo-te que me expliques bem explicadinha a fórmula e=mc2, sem omitires nada!” O grau de exigência destes larápios vai ao ponto espantoso de exigir dissertações sobre o esquematismo kanteano ou mesmo sobre a fenomenologia existencial do dasein em Heidegger. Em alguns casos relatados solicitam-se informações detalhadas que incidem em módulos de investigação operacional como sejam as “listas de espera” ou teoria dos grafos ou sobre aplicações da física quântica e nuclear. Assim vai a insegurança nas ruas das nossas cidades!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

soube por fontes e chafarizes de informação que os bens assaltados destinam-se a ser vendidos como matérias inorgânicas para os blocos noticiosos a passar nos canos televisivos

quarta-feira, fevereiro 15, 2006 1:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

puro açúcar! keep it up!

quarta-feira, fevereiro 15, 2006 2:17:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois a mim só me roubam nozes e paradoxos de Russel. Será praga?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006 4:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu fui vítima de um assalto desses, a minha sorte foi ser estudante de política e ter mentido tanto que ele se confundiu e foi embora! Ossos do ofício...

quarta-feira, fevereiro 22, 2006 11:52:00 da manhã  

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