Bruno Garnier e o regresso ao bairro antigo II

Bruno era agora um homem ocupado. Costumava ver televisão de manhã à noite ou melhor de tarde até de madrugada, frequentava umas aulas de formação profissional no "Fórum Brandoa" e todos os dias reservava vinte minutos para se actualizar no salão de jogos "Arco Íris"! O seu vício era os velhos jogos de vídeo dos anos oitenta e noventa que jogava sozinho sem passar cartão a brancos ou negros. Ultimamente ia lá para assistir a uma novela da vida real, pois era lá que se faziam os planos de última hora para os ataques terroristas de protesto contra a descriminação das minorias e a forma como eram tratados milhares de imigrantes que agora viviam na Brandoa! Aquilo era interessante… obviamente que nunca passara pela cabeça a Garnier denunciar o que quer que fosse às autoridades… pois que se a França havia tido a sua revolta de imigração porque é que Portugal não a podia ter passados 25 anos?! Na verdade Bruno era um homem voluntarista: como dizia ao seu amigo Valério – “Se os franceses são cosmopolitas nos seus problemas sociais também nós devemos ser”, acrescentando com autoridade, “temos que acabar que este atávico atraso de vinte cinco anos de que o meu pai já falava nos anos oitenta do século XX”! Note-se que a nossa personagem estava bem informada através dos seus 250 canais internacionais de televisão (sem contar com os trinta de teleshop e 90 de pornografia do Médio Oriente. Era assim a Brandoa do futuro… com revoltas sociais, atentados e tudo…