BRUNO GARNIER E O PALÁCIO

Bruno Garnier pôs-se a tentar compreender o estranho "monumento" que se encontrava nas proximidades do Edifício Brandoa. Dir-se-ia ser um edifício típico da burguesia agrária pré industrial, mas como Garnier confirmara fora construído em betão armado e com processos que apontavam mais para princípios do sséculo XXI ou finais do século XX. Foi à Biblioteca Camões e descobriu que o edifício original fora demolido sem protestos da população e com muito proveito dos autarcas da época. O bom do Garnier, que desde que lera as histórias do magnífico Fodaz Ribeiro se interessara pela decadência urbana, rejubilava com esta descoberta. Decidiu escrever uma monografia sobre os hábitos da velha quinta que circundava o original palácio, descobriu muito compadrio, podridão e a transformação daquele lugar no maior bairro clandestino da Europa à luz de candeias de petróleo. Enfim a miséria lúgubre do operariado pré cibernético fazia-lhe lembrar o avô e foi então que se dispôs a escrever a sua “História dos antros suburbanos de Lisboa”, obra tão sensaborona como o objecto de estudo que versava! Foi para isto que se virou a reforma que Garnier comprara a um alto funcionário do Estado. De resto concluía, eram os mesmo que ocupavam a cadeira de fuzilamento e exumação. É verdade que tinham caras diferentes, mas eram tão autênticos como aquele “palácio”, substantivo com o qual o avô designava o velho edifício. O maior incentivo à sua curiosidade fora-lhe incutido quando criança por ter conhecido a enigmática figura do "Mário Maluco" e do "Chico Mamadas", figuras populares daquele lugar que estavam presentes em cada cena pitoresca ocorrida nos anos 70 e 80. Garnier tinha muito que contar...