01 setembro, 2005

A MINHA TERCEIRA CONVERSA COM O PRESIDENTE BUSH (4º versão)

A minha terceira conversa com o Presidente Bush, o Inevitável, decorreu, como habitualmente, de forma cordata e pacífica. Tirando uns apartes do género “This fucking bastard nunca mais se vai embora” ou “Shit on him, Condolezza” confesso que fui sempre muito bem tratado.


--Ouvi dizer que você é espanhol, Mr. Sarja Akhmani— Sussurrou em voz alta o presidente Bush, — Como vê, também fiz o meu trabalho de casa…
Inútil dizer que fiquei estupefacto com a sagacidade daquele hombre de Diós. Mal sabia o meu director que esta viagem iria mudar definitivamente o meu modo de ver a vida em particular e as normas de higiene das girafas microscópicas em geral. Quando o António Esteves Rebarbado do Jornal Expresso me disse: “Sarja Akhmani, vai lá entrevistar o gajo, pá, isto está por um fio, a crise dos mísseis de Cuba está ao rubro, nem o Kennedy nem o Krutchev querem ceder, isto está lindo está… Akhmani, mete-te imediatamente no avião para Washington e vai lá conversar com o Kennedy…Tenta apanhá-lo em flagrante delito com a Marilyn, sei lá, pá! Olha, inventa uma boa história...Mas inventa-a em Washington que é para a coisa ser mais credível e ter mais classe em Portugal, tás a perceber? Só tens de lá estar antes que o gajo seja assassinado em Dallas, ouviste?! ”. Ouvir ouvira, só que fora completamente apanhado desprevenido e precisava de ir a casa fazer as malas. Assim que pus os pés no metro, dormi uma boa soneca, congeminei projectos e teorias que só Deus é que sabe (espero que ele ainda se lembre) e assim que me deparei por casualidade com a minha estação, pisguei-me para casa. Como sou um cidadão bastante pragmático e organizado fui de tal forma célere na arrumação das malas que assim que me despachei já o George Bush era presidente dos Estados Unidos. Mal sabia o meu director, dizia eu, que esta entrevista com este crânio de veludo iria fazer de mim, jornalista do mais prestigiado semanário do país, um luís delgado tão interessante como uma bronquite.
--Não, Mr. Bush, sou espanhol— Afirmei peremptório.
--Ah, julguei que fosse espanhol…
--Não, Mr. Bush, não sou espanhol. Sou e-s-p-a-n-h-o-l, o que são coisas muito diferentes. Normalmente as pessoas confundem os dois países. Uma algaraviada sem nome, como deve calcular. Que se confunda o Algarve com o Al Gore é por demais compreensível até porque a designação de ambas as regiões começa por “Al”…
--Aposto como essas duas regiões de Espanha foram compradas pelo Batman, esse “son of the”BIP-BIP". …--Vituperou sempre certeiro o meu querido amigo Mr. Bush,
--Tem toda a razão.—Apressei-me a concordar–-No entanto, a coisa é mais grave: o Al Gore emprestou o Algarve a Alá, o sheik dos árabes...Aliás, os próprios islâmicos consideram o Al Gore primo de Alá, uma espécie de Zorro do Corão, um místico sufi em maçã de gelatina à caçadora, um Matisse do aparelho circulatório do Islão...--Eu sabia que estava a lançar boatos, eu sabia que estava a mentir, mas era mais forte que eu. Sempre que pronuncio a palavra “Zorro” ponho-me logo a inventar boatos…
--Zorro?! Pensei que esse tipo já tivesse morrido...–-Disse o Mr. Bush, enquanto coçava comercialmente o nariz com uma máquina de barbear.
--O Zorro?! — Pensei eu com os buracos que, amiúde, os borrões do cigarro abrem com autoridade nas minhas camisas.-—O Zorro?!
--Sim, o Zorro!
--Parece que o Nicolau Brayner é irmão da Sophia de Mello Breyner...
--I beg you pardon?!
Fiz uma segunda tentativa, até porque isto de inventar boatos requer alguma imaginação, verosimilhança, convicção e um grande sentido de oportunidade:
--Ouvi dizer que a Áustria pretende anexar a Austrália…
--But how?!
Terceira tentativa:
--Diz-se à boca pequena que todos os bípedes são quadrúpedes.
Foi então que ele disparou à queima-roupa:
--Vocês, os espanhóis, são os verdadeiros herdeiros do Logos grego, os autênticos continuadores do Método Experimental instaurado por Francis Bacon e Galileu. Aliás, digo mais—-Recitou ele enquanto apertava a cabeça entre as mãos como se estivesse a espremer um fruto exótico que invertesse a força da gravidade e empurrasse tudo para cima, em direcção ao Espaço—Digo mais: vocês, os espanhóis, são os verdadeiros herdeiros do Logos grego, os autênticos continuadores do Método Experimental instaurado por Francis Bacon e Galileu…
Embora não tivesse entendido nem metade do que ele dissera, confesso que ficara siderado com aquele palavreado todo. Ao longe, do outro lado deste texto, alguém que não eu ia tecendo uma invisível aliança entre nós. No entanto, de tudo quanto fora dito, retive duas ou três palavras que me pareceram assaz importantes: grego, bacon e herdeiros.
--Eu sei muito bem o que isso é— Disse eu inconsciente do que proferia enquanto semicerrava o olho esquerdo—-o olho que dá profundidade às palavras—-Eu sei muito bem o que isso é...Além disso, a minha tia…
--Who?
--Bem…
--Tell me, please!
--Bem, a coisa é um bocado íntima...
--Homem, esteja à-vontade. After all, we are friends, aren`t we?
--Sim, lá isso somos, mas...
--E então? What´s the problem, pal?
--É como disse: a coisa é um bocado íntima...Tem a ver com a minha tia Angelina Lópulus, uma mulher extremamente corajosa que enfrentou a ditadura dos coronéis gregos...
Numa das janelas traseiras da Sala Ovale-tudo um sol cor de pedra ia saindo, em azul, do nariz do marxista Groucho.
--Que foi que ela fez? Foi presa? Armou-se em revolucionária?
--Não…
--Então? Pegou em armas? Era comunista? Diz você que os enfrentou corajosamente…Como? Matou algum deles?
---Não, nada disso...
---Inventou o Método de Karnaugh?
--Nada disso! Ela preferia plantar eucaliptos.
--Não me diga que ela tinha o péssimo hábito de ir todas as quintas-feiras ao CERN libertar electrões em semicondutores intrínsecos?
--Homem, deixe-se disso...Ela era muito boa pessoa...
--Tinha o péssimo hábito de comer arroz à valenciana e depois vomitar para que tudo voltasse a estar bem entre vocês?
--Não, ela nunca ateou icêndios a florestas num raio de 500 metros do palacete onde vivia.
--Homem, Diga lá! Foi ela quem descobriu o número de Avogadro?
--Não, ela estagnou no Australopithecus. Uma vergonha para a família e para o Darwin.
--já sei: foi ela quem descobriu o átomo...
--Não, ela nunca foi adepta de desportos radicais.
--Aposto como estudou os mitos dos Índios da América do Norte, escreveu um livro importantíssimo e foi-lhe concedida uma cátedra em Harvard.
--Não, ela detestava cemitérios.
--Foi uma vestal na antiga Roma?
--Não, ela nunca foi a Roma. Nunca saiu de Atenas, coitada...Nem mesmo no tempo do Péricles Guterres.
--Ela defendia que não havia uma diferença substancial entre um aneurisma e um sofisma…
--Isso já não sei. Mas tenho a certeza que confundia as vitaminas todas.
--Aposto que refutou a Fenomenologia, o Existencialismo e a Filosofia Analítica enquanto o diabo esfrega um olho...
--Não, ela sempre foi uma pessoa muito frugal: ao pequeno-almoço comia sempre bacon com ovos, falava grego clássico com sotaque de fiambre e estava sempre a ralhar com os futuros herdeiros da sua imensa fortuna...
--Ah! Então é isso!
--Sim, é exactamente isso! – Disse, um pouco embaraçado.
--Compreendo-o perfeitamente. Também tive pessoas na família com esse problema. Sabe, a medicina evoluiu muito…
--Eu sei disso. De qualquer das formas não adianta muito porque ela já morreu.
--A medicina tem avançado muito. Nunca se sabe…
--Pois é, nunca se sabe.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ó meus amigos isto é humor???? Escrever: "...Aliás, os próprios islâmicos consideram o Al Gore primo de Alá, uma espécie de Zorro do Corão, um místico sufi em maçã de gelatina à caçadora, um Matisse do aparelho circulatório do Islão..." tem alguma graça??? Ficai sabendo que para haver humor tem que haver chalaça e vós escrevei frases sem sentido pós modernas! Modificai o vosso blog!

segunda-feira, setembro 12, 2005 11:36:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home