01 setembro, 2005

A MINHA SEGUNDA CONVERSA COM O PRESIDENTE BUSH (4º versão)

Eram exactamente 9 horas e 63 minutos quando pisei pela segunda vez o chão da Sala Ovale-Tudo, na Casa Branca. Altivo como a teoria electromagnética de Maxwell, o meu peito arfava obstinado e inteligente como o major Valentim Loureiro. Nessa notável manhã de luz e imbecilidade, a minha mente divagava pesadamente pela selvagem sabedoria em branco sujo da vida. Instintivamente, lembrei-me de alguns aforismos por que sempre pautara o meu comportamento de sabujo perfeitamente asqueroso: “A vida é a vida”--escreveu uma vez o filósofo austríaco (amigo e confidente de Wittgenstein) --Chico Barata “e quem não pensa assim é uma besta-quadrada”. Levei cerca de 89 minutos a compreender exactamente o alcance metafísico destes luminosos pensamentos. Eu explico: passei os últimos dez anos da minha fabulosa e druídica vida a folhear religiosamente, aos sábados à tarde, o livro mais conhecido deste desconhecido autor:” A Vida é a Vida”. No entanto, os capítulos que li e reli com especial avidez, proveito e acuidade foram “E Quem Não Pensa”; (o Habermas quê se cuide!); “Assim” (um capítulo que estuda a influência da Escolástica no pensamento dos pré-socráticos) e “É uma besta-quadrada” (o meu preferido).
Dada a espessura conceptual destes textos, optei por dedicar, todos os sábados, exactamente um redondo segundo de atenção a cada capítulo, pois os títulos começavam precisamente no ponto em que os capítulos terminavam e vice-versa. Daí os tais 89 minutos. Mais exactamente 89.6. Que tem a ver a filosofia deste importantíssimo quanto ignoradíssimo autor com a minha segunda conversa com o Presidente Bush? Nada, rigorosamente nada, dirão os meus estimados e distraídos leitores. Pois eu discordo veementemente— acho que tem tudo a ver, embora considere que, de facto, uma coisa não tenha nada a ver com a outra.


--Steven Spielberg!? O cineasta? O autor de “Amistad”? — Disse o presidente Bush.--O autor desse fabuloso filme que dá pelo nome de “Minority Report”?
--Sim, sim, é esse mesmo!
--O autor de A.I.--“Inteligência Artificial”?
--Sim…Sim…
--O autor De “Jaws” e de “E. T.”?
--Sim, sim, É MESMO ESSE! — Bradei entusiasmado.
--Spielberg!? — Resmungou o admirável Mr. Bush,— Nunca ouvi falar desse tipo. É famoso? --Levei imediatamente as mãos aos bolsos à cata de um bloco de notas de capa preta que me acompanha sempre. Precavido como sou, antecipara-me sabiamente àquela profundíssima questão e investigara em casa a vida e a obra do homem. Após um larguíssimo e entediante segundo de nervosa expectativa, lá dei com algumas anotações tiradas à pressa de uma enciclopédia barata:” De origem alemã, Antunes Spielberg foi presidente de Israel desde o dia 18 Maio de 1980 a 19 de Maio do mesmo ano. Além disso, fez filmes com uma Super8 que roubou a um palestiniano tendo sido igualmente o fundador do simpático Hamas e o inventor do antipático estado gasoso….Ouça, isto tem piada: o seu nome significa literalmente “Montanha de brincar”…Spielberg…”Montanha de brincar”…Não é engraçado? --Calma!--Interrompeu oportunamente Mr. Bush,.--Wait a moment, please! Vamos por partes. Afinal, quem foi esse tal de “Joking Mountain”? Julgava que era nazi….
Confesso que rejubilei de alegria. Quem foi que disse que Mr. Bush, o aglutinável homem das neves, era um ignorante? O homem dominava perfeitamente a História de Portugal! Inveja, o que os críticos tinham era inveja.--Tem toda a razão, Mr. Bush--Esse tal de “Joking Mountain” foi nazi! Continuei a ler: “Antunes Spielberg instituiu o nazismo em Israel: mandou construir um muro em torno das aldeias palestinianas, mandou bombardear amorosamente muitas delas, construiu honestos colonatos em território palestiniano e como se isso não bastasse aproveitou-se das circunstâncias para os pôr a trabalhar numa fábrica. Foi assim que filmou a “Lista de Schindler”. Um bom aliado do Ocidente!--Concluí já em transe, as pernas cruzadas em flor de lótus.--Tem toda a razão, Mr. Sarja Akhmani--Disse Mr. Bush — O Ocidente precisa de homens de pulso como esse! Vou condecorá-lo com a Ordem da Liberdade!
Palavras para quê? Em duas ou três frases este homem insigne, este líder, este coelho com tomate do mundo livre, este pensador invejado por Aristóteles, este Miguel Ângelo Buonarotti da modernização do Iraque, este lírio, este “pauzinho enfeitado de flores e ginjas, também chamado raposo (Dic. Cândido Figueiredo) do Planeta Terra dissera tudo o que havia a dizer. Sim, palavras para quê? Que poderia eu acrescentar, na minha humilde ignorância, na minha vastíssima e enciclopédica ignorância? Nada, meus amigos, nada…

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que piada tem brincar com o holocáustico??? Ainda para mais a difamar o autor de E.T. o filme que vi para cima de 10 vezes no Mundial??? Vocês são uns iconoclastas! Fique sabendo senhor Sarja que é pessoa non grata na Gafanha da Nazaré!

segunda-feira, setembro 12, 2005 11:39:00 da manhã  

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